A análise de risco traz grandes benefícios não apenas para a saúde dos pacientes, como também para a administração de hospitais, operadoras e demais instituições do setor. Mas como colocá-la em prática e obter os ganhos que o acompanhamento mais próximo da saúde populacional proporciona?
Seja por meio da criação de programas de cuidado, de alterações nas prioridades e na forma de atuar das instituições, do uso da tecnologia ou de uma união de todas essas iniciativas, é possível oferecer mais qualidade e, ao mesmo tempo, reduzir custos, criando um sistema de saúde mais sustentável.
Neste artigo, abordamos os principais pontos da análise de risco na saúde e do uso da tecnologia para alcançar os melhores resultados. Além disso, convidamos o médico e diretor técnico da Aliança para a Saúde Populacional (Asap), Fábio Gonçalves, que contribuiu com sua visão a respeito do tema.
Leia agora mesmo — ou corra o risco de não obter mais conhecimento!
O que é análise de risco na saúde?
A análise de risco e a criação de programas de cuidado em saúde podem ser definidas como a análise, avaliação e priorização de riscos de saúde de uma população para estabelecimento de estratégias sustentáveis de atendimento, de forma que garantam o bem-estar dos pacientes como também a sustentabilidade das instituições gestoras.
Encontrar formas de acompanhar os indicadores de saúde dos pacientes e de orientar essas pessoas na prevenção a doenças por meio de programas de cuidado faz parte da análise de risco. É fundamental, ainda, dar a devida atenção às doenças mais prevalentes na população, com uma atuação focada em mitigar seus avanços.
Por que é importante que os gestores de saúde façam análises de risco das populações?
A primeira razão para as empresas de saúde investirem em análise de risco é a necessidade de garantir a satisfação dos pacientes com o atendimento recebido. Isso ocorre a partir da prevenção, de um atendimento baseado em atenção primária, em coordenação do cuidado e no foco em evitar que o indivíduo tenha um problema de saúde grave.
Isso é fundamental tanto para o bem-estar do paciente como também, é claro, para as finanças de operadoras de saúde, hospitais e outras instituições do setor. Afinal, quanto mais procedimentos, tratamentos e recursos utilizados, maior o gasto para o sistema de saúde como um todo — o que pode acarretar a falta de recursos materiais e humanos para o atendimento de mais pessoas.
Como desenvolver a análise de risco na prática?
Conversamos com o diretor técnico da Aliança para a Saúde Populacional (Asap), Fábio Gonçalves, que contribuiu com insights a respeito do desenvolvimento de ações direcionadas à análise de risco na prática. Acompanhe!
Foco nas necessidades do paciente
Para Gonçalves, o primeiro passo para uma instituição da área colocar a análise de risco em prática é compreender melhor as necessidades dos pacientes, ou seja, mapear o perfil de risco da população de interesse.
“A lógica atual do sistema é incentivar a remuneração dos serviços prestados por itens utilizados. Desde a agulha e do soro até os procedimentos em si, a remuneração ocorre item a item. Uma das consequências disso é a criação de um sistema que tem pouco incentivo em desenvolver uma estratégia baseada na gestão de saúde populacional e coordenação de cuidado — o que acaba dificultando a análise de risco”, explica o médico.
Conhecimento geral da população
Outro fator essencial é o conhecimento do perfil da população que está sendo atendida. Contar com dados capazes de estratificar o perfil exato dos pacientes que integram uma população — sejam clientes de um plano de saúde, pacientes de um hospital ou colaboradores de uma empresa — é fundamental para que a análise apropriada de risco ocorra.
Compreensão da condição médica
Além de ter a compreensão a respeito do perfil de pacientes atendidos, é importante se aprofundar nas necessidades de cada grupo, observa Gonçalves. Na opinião do diretor da Asap, é preciso entender quais são as condições médicas de cada segmento da população em análise.
Por exemplo, é fundamental dar a devida atenção a doenças que tenham faixas etárias elevadas como fator de risco — como as doenças coronarianas.
“Para os gestores de saúde, conhecer o padrão de utilização dos recursos ligados a determinadas condições médicas é muito importante. São oportunidades de eles começarem a pensar de forma mais estratégica e de desenvolverem programas de cuidado específicos baseados em valor”, analisa.
Atitude contra desperdícios
Ao entender melhor o perfil da população atendida, a tendência é que haja menos desperdícios para o ecossistema de saúde, o que também é um fator de grande relevância para os gestores do setor e suas respectivas instituições, na opinião de Gonçalves.
“A criação de valor deverá ser pautada em melhorar a experiência do paciente e a qualidade assistencial, além de reduzir o custo total do cuidado”, avalia o médico.
Quais as doenças mais prevalentes na população?
Entender quais são as doenças mais prevalentes na população é outro aspecto fundamental da análise de risco. Afinal, preparar-se para atender a essa necessidade com recursos humanos, capacidade tecnológica e processos assistenciais alinhados é papel de qualquer instituição de saúde.
Veja quais são os indicadores mais importantes, do ponto de vista epidemiológico, segundo o Guia de Dados e Indicadores para Gestão de Saúde Corporativa da Asap:
- diabetes;
- dislipidemia;
- hipertensão arterial sistêmica;
- depressão;
- ansiedade;
- obesidade;
- sobrepeso;
- doença pulmonar obstrutiva crônica;
- osteoporose;
- dores na coluna;
- neoplasia.
Como a tecnologia pode apoiar estratégias de análise de risco nas empresas de saúde?
Cada vez mais, a tecnologia vem desempenhando um papel importante no suporte às estratégias de análise de risco e na criação de programas de cuidado em saúde. Confira alguns exemplos!
Registro do histórico e acompanhamento da jornada do paciente
O uso de sistemas de prontuário eletrônico ou outras ferramentas capazes de armazenar dados clínicos relevantes do paciente pode ser um grande aliado na hora de fazer a análise de risco.
A criação de gráficos comparativos a partir desses dados é um dos recursos disponíveis nesse tipo de sistema. Eles ajudam o gestor a identificar as necessidades de cada indivíduo. A partir daí, pode-se tomar decisões de forma mais estratégica e embasada.
Dashboards para grupos de pacientes
Peter Drucker, pai da gestão, tem uma máxima que também vale na saúde: “Você não consegue gerir o que você não mede”. Entender as necessidades dos pacientes de forma geral, mas também dentro de grupos específicos, pode ser feito com o apoio de dashboards.
A definição de indicadores-chave e metas a serem cumpridas para determinadas populações pode ajudar na condução das estratégias de saúde dos times. A coleta de dados clínicos e sua estruturação, possíveis com o auxílio de softwares médicos, são fundamentais no processo de análise, dando a informação necessária para os times.
Sistemas de Suporte à Decisão Clínica
Ferramentas de Suporte à Decisão Clínica (também conhecidas como Clinical Decision Support Systems ou CDS, em inglês) auxiliam o profissional de saúde durante o atendimento clínico. Esses sistemas analisam bases de dados e oferecem insights a partir do cruzamento de informações a respeito do paciente. Geralmente, estão integrados ao prontuário digital, facilitando esse processo.
Além de trazerem maior precisão e velocidade aos diagnósticos, esses sistemas também ajudam a fazer a gestão do paciente, pois permitem identificar padrões com base em seu histórico, sinalizam potenciais riscos e trazem uma visão holística a respeito da saúde dos indivíduos.
A conversa está boa, mas já estamos chegando ao fim deste artigo, no qual propusemos uma reflexão em torno da necessidade de investimento em análise de risco e na criação de programas de cuidado voltados à saúde populacional. Esperamos ter contribuído com a discussão!
Se gostou do conteúdo, continue com a gente: leia nosso blog post sobre coordenação do cuidado.