Muitos profissionais de saúde podem ficar ansiosos quando ouvem falar em saúde 4.0. “Já tem outra novidade?”, é a pergunta que muita gente se faz, sem ainda terem conseguido se adaptar às últimas tendências do mercado. Mas a verdade é que o conceito já está em prática há alguns anos. Embora seja necessário entendê-lo e se adaptar para proporcionar o melhor atendimento possível aos pacientes, pode ser que a saúde 4.0 já tenha sido colocada em prática no seu consultório.
Segundo o livro “Saúde 4.0 – Proposta para impulsionar o ciclo das inovações em Dispositivos Médicos (DMAs) no Brasil”, lançado pela Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde (ABIIS), em 2015, o termo é inspirado no conceito da “indústria 4.0”, que os estudiosos do tema têm usado para caracterizar a convergência entre tecnologias — sejam elas biológicas, digitais ou físicas. Na área da saúde, isso também vem ocorrendo. O uso cada vez maior de dados, inteligência artificial e outros recursos busca prevenir doenças e oferecer tratamentos mais eficientes, além de reduzir custos.
Alguns especialistas, inclusive, já vem falando em saúde 5.0, algo que deve entrar no radar dos profissionais de saúde nos próximos anos. O conceito envolve pensar em saúde e tecnologia de forma natural, sem ser algo forçado e que ainda precise ser “ensinado”. Acima de tudo, a telemedicina, a medicina preditiva e os dispositivos vestíveis (wearables) tendem a se tornar um novo padrão nos tratamentos, e não exceção à regra.
Neste artigo, vamos falar a respeito das formas como a saúde 4.0 se manifesta e também sobre os benefícios que ela já vem trazendo para os profissionais da área. Nem todo mundo ainda está totalmente direcionado a essa forma de trabalhar, é verdade. Mas quem sabe o texto não te inspira a mudar essa situação?
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Como a saúde 4.0 se manifesta na prática?
Para a saúde 4.0 ser mais que um conceito, ela deve apresentar resultados práticos. Por isso, é fundamental falar sobre suas manifestações no dia a dia dos profissionais de saúde. Confira alguns exemplos!
Uso de dados na saúde
O uso de dados tem se tornado decisivo em uma série de negócios, e no mercado de saúde não é diferente. Seja para salvar vidas nos hospitais, seja para realizar o diagnóstico mais preciso no consultório ou, ainda, fazer uma boa gestão de uma instituição, estar abastecido por dados estruturados é essencial.
Uma das grandes fontes de dados para os profissionais de saúde é o prontuário eletrônico, desde que ele esteja preparado para isso. Informações a respeito dos mais variados temas — como gênero e faixa etária dos pacientes de especialidades médicas específicas, sazonalidades e incidência de doenças em determinadas regiões, demanda por exames, encaminhamento para cirurgias e diversas outras — podem ser coletadas no consultório.
A análise que se faz desse material e o cruzamento entre dados pode munir profissionais e organizações com insights capazes de promover verdadeiras revoluções na maneira como os serviços são prestados.
Inteligência artificial
Implementar modelos e processos padronizados em diversos componentes do segmento de saúde, desde a administração até diagnóstico e terapia, é uma das principais vantagens de contar com a inteligência artificial na área. Quem afirma isso é o Prof. Dr. Christian Jeleazcov, da Faculdade de Medicina da Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg (FAU), em entrevista ao site do DWIH São Paulo.
Entre as aplicações práticas da inteligência artificial na saúde, Jeleazcov destaca:
- iniciativas nas áreas de radiologia, histologia e oftalmologia, como métodos 3D para identificar e medir estruturas de tecidos patológicos;
- a identificação e o monitoramento de casos de insuficiência cardíaca;
- uso da robótica em cirurgias;
- geração de cartas de consulta e receitas médicas, entre outros.
Muitas aplicações já estão sendo colocadas em prática, enquanto outras estão previstas para um futuro próximo, o que pode ajudar os profissionais e gestores de saúde a detectar grupos de risco para determinadas doenças, prevenir que essas enfermidades se manifestem e, até mesmo, acompanhá-las a distância. Isso tudo sem deixar de dar atenção ao paciente em nenhum momento (muitas vezes, por meio de gadgets como pulseiras inteligentes, por exemplo).
O próprio monitoramento de desperdícios em um hospital, clínica ou consultório pode evitar a realização de exames, tratamentos e até cirurgias desnecessárias. Isso não só reduz custos como aumenta a qualidade de vida do paciente e dá mais tempo ao profissional de saúde para focar no que realmente importa em cada situação.
Comunicação online
A comunicação por meios online também é uma forma de colocar a saúde 4.0 em prática. Embora nem todos os profissionais de saúde sejam favoráveis a essa prática, muitos já se comunicam com os pacientes via aplicativos de mensagem e até mesmo realizam consultas com ferramentas de telemedicina.
Mas a comunicação nem sempre é direta entre médico e paciente. Às vezes, o próprio envio de solicitações de exames para laboratórios pode ser feito com ajuda da tecnologia e agilizar o diagnóstico. O agendamento de consultas, que muitas vezes passa pelas secretárias, também pode ser facilitado por meio de um módulo integrado ao prontuário eletrônico, por exemplo.
Suporte à decisão clínica
Os Sistemas de Suporte à Decisão Clínica são mais uma forma de aplicar o conceito da saúde 4.0 na prática. Aqui, estamos falando de ferramentas — geralmente integradas ao prontuário eletrônico — que auxiliam os profissionais de saúde a tomarem as melhores decisões durante uma consulta. Elas são alimentadas por conteúdo científico e fontes de atualização médica que facilitam o acesso a dados e protocolos recentes. A partir da inserção de dados clínicos no prontuário, o próprio sistema já faz recomendações e emite alertas — por exemplo, um medicamento ao qual o paciente é alérgico e que não deve ser receitado. Os sistemas também podem contar com calculadoras, como a escala de risco cardiovascular, que facilitam a vida do profissional de saúde durante a consulta.
Quais os principais benefícios da saúde 4.0?
De nada adianta investir em conhecimento e tecnologias com base no conceito de saúde 4.0 se eles não trouxerem benefícios no dia a dia, concorda? Por isso, destacamos algumas das vantagens que o uso dessas ferramentas pode proporcionar aos profissionais de saúde a seguir.
Maior produtividade
O ganho de produtividade é um dos maiores benefícios de investir em recursos baseados em saúde 4.0. Pegue como exemplo o uso de dados: eles facilitam a realização de diagnósticos e direcionam o tratamento de forma mais precisa. Já a inteligência artificial aplicada à saúde permite monitorar pacientes a distância, enquanto outras atividades são realizadas.
O mesmo vale para a comunicação com os pacientes. Enquanto uma primeira consulta, que demanda exames físicos presenciais, pode ocorrer em consultório, os retornos dos pacientes para acompanhamento da evolução do tratamento podem se realizar por teleconsulta, por exemplo.
Diagnósticos mais precisos e embasados em dados
Já dissemos que, no contexto da saúde 4.0, os diagnósticos podem se tornar mais precisos. Mas isso não tem relação com a capacidade do profissional de saúde em fazer esse trabalho. Trata-se, na verdade, de ter uma visão mais global sobre os pacientes e dar suporte aos médicos e outros especialistas.
Com o apoio de um Sistema de Suporte à Decisão Clínica, por exemplo, um cardiologista pode receber recomendações de exames que podem ser realizados em seu paciente que estão mais relacionados a outras especialidades médicas — até porque enfermidades como a diabetes, as doenças renais e outras podem aumentar o risco cardiovascular.
Redução de custos
Quem nunca ouviu a frase “tempo é dinheiro”? Se há um ganho de produtividade a partir da inserção de tecnologias no dia a dia dos profissionais de saúde, certamente haverá um benefício financeiro. E isso tanto para o profissional em si, quanto para os pacientes e para o sistema de saúde como um todo.
A partir do momento em que um diagnóstico se torna mais preciso, o paciente provavelmente demandará uma quantidade menor de exames e procedimentos, já que aumentam as chances de o médico ir direto ao ponto. Embora a investigação do quadro individual de cada paciente seja sempre necessária, o processo pode ser acelerado. Isso evita desperdícios e ainda permite que mais pessoas recebam atendimento pelo sistema de saúde, diminuindo filas de espera, por exemplo.
Prevenção de doenças
A tecnologia também ajuda na prevenção de doenças. Ao cruzar dados como histórico de saúde do paciente com faixa etária, local onde vive, parâmetros genéticos e tendências, entre outras informações, torna-se mais fácil antecipar-se ao surgimento de uma enfermidade. Isso, mais uma vez, contribui não apenas com o paciente, mas com o próprio sistema de saúde também.
Maior agilidade na solicitação de exames
A solicitação de exames por meio de ferramentas que agilizam a comunicação com laboratórios é uma vantagem bastante prática e perceptível na rotina de um consultório. Por isso, muitos profissionais de saúde já se beneficiam da tecnologia, especialmente usando sistemas integrados ao seu prontuário eletrônico.
Viu só como a saúde 4.0 não é um bicho de sete cabeças? Muitas de suas aplicações práticas já fazem parte do dia a dia, mas isso não significa que novidades não estejam sempre chegando. Afinal, manter-se atualizado é fundamental para garantir o melhor atendimento aos pacientes e o acesso a tecnologias que facilitam a vida dos profissionais de saúde.
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